TJ participa de ação que levará moradores de rua a jogo de futebol

Por meio da ação, jogo entre Atlético e Caldense hoje (10/02), às 21h45, no estádio Independência, reunirá cerca de cem pessoas em situação de rua

Do lado de fora do Independência, olhando para o estádio, em um dia de clássico, é provável que João, José ou Maria já tenham se questionado: “Será que um dia poderei estar frente a frente com aquele gramado?”; “Qual será a sensação de sentir a vibração de uma arquibancada cheia, explodindo depois de um gol?”; “Como é ver ao vivo os dribles de um craque de futebol?”.

Personagens fictícios, eles representam aqui as centenas de pessoas que vivem em situação de rua na capital mineira. Despossuídas de direitos básicos como saúde, moradia e até documentação, muitas delas nem sequer se permitem sonhar em ter acesso ao esporte, ao lazer e à cultura, presas que estão à luta diária pela sobrevivência em uma situação de vida extrema. Mas esse é um direito de todas, um sonho que muitas acalentam e algo que está prestes a acontecer a algumas delas...

Hoje, 10 de fevereiro, no mais tardar às 20h30, os corações de cerca de cem pessoas que vivem em situação de rua vão bater mais forte quando elas entrarem no estádio Independência pelo portão do setor Vip Minas, para assistir a uma partida entre o Atlético e o Caldense. Muitas estarão pisando em um estádio de futebol pela primeira vez. Os ingressos foram doados pelo Clube Atlético Mineiro, que, assim como o Cruzeiro, tornou-se apoiador da causa do combate ao preconceito e da luta pelos direitos da população de rua. A partida se inicia às 21h45.

A ação é a primeira do projeto Rua do Respeito em 2016. O projeto é resultado de um termo de cooperação técnica (TCT) assinado em maio do ano passado pelo TJMG, pelo Ministério Público de Minas Gerais e pelo Serviço Voluntário de Assistência Social (Servas). Por meio dele, as três entidades têm mobilizado, articulado e integrado esforços em prol da população que vive nas ruas, viabilizando ações voltadas para promover o exercício da cidadania dessa comunidade.

Os agraciados com os ingressos são pessoas em situação de rua cadastradas no Abrigo Municipal Tia Branca, que organizou a lista. Na ida ao jogo, o grupo de quase cem pessoas será acompanhado por monitores do abrigo, integrantes do Movimento de Pessoas em Situação de Rua e uma equipe do Servas, responsável pela organização da logística, que incluirá o transporte de ida e volta ao estádio e a distribuição de um lanche durante o intervalo do jogo.

Simbologia

O juiz Sérgio Caldas Fernandes, da 23ª Vara Cível de Belo Horizonte, ressaltou a importância do apoio dos clubes no combate ao preconceito e no esforço de promover mais inclusão social. “As pessoas em situação de rua são, muitas vezes, identificadas como amantes da vagabundagem e da mendicância. Por consequência, qualquer ato de lazer, como assistir a um jogo de futebol, é considerado preconceituosamente como um incentivo ao ócio. É difícil a percepção que o restabelecimento de laços e, em última instância, da própria vontade, passa pelo acolhimento e pelo sentimento de pertencimento”, observou o juiz, que é um dos representantes do TJMG no desenvolvimento das atividades relacionadas ao TCT.

A pessoa apartada da sociedade acaba se escondendo “nas suas sombras, na marginalização que pode se transformar em marginalidade”, avalia o magistrado. “Daí a necessidade de atos como esses, pois a autoestima da pessoa em situação de rua aumentará, a perspectiva de que ela pode voltar ou pela primeira vez entrar naquela sociedade que a rejeita – e, por vezes, acaba sendo também agredida por ela em resposta – tem o condão de despertar a vontade de se desenvolver como pessoa e como cidadão. É simbólico ver um campo de futebol quando até então só se imaginava o que acontecia dentro daqueles muros”, conclui.